domingo, 18 de março de 2007







Não importa o que eu tenha feito,


alguém ficou puto com o que fiz.

De
Luiz Americo




Cago devagar justamente pra merda não bater na água e molhar minha bunda. E também porque eu curto cagar devagar. E também que adoro cagar no horário de serviço. Cagada remunerada, é nessas horas que realmente acredito no valor de minha força de trabalho. Aqui estou seguro e ninguém me enche o saco, nem deus entra no banheiro quando estou cagando. Uma punheta também vai bem, ainda mais que aquela loirinha gostosa, filha do meu chefe, apareceu com seu pai pela manhã. Parece que estava indo no médico ou dentista ou psicólogo ou sei lá o quê. E o chefe não está! Vou poder passar praticamente a manhã toda na Internet se nenhum caga-pau me incomodar. Ouvi dizer que o mercado está em crise e que as coisas não vão ficar nada boas. Um caralho que não vão ficar nada boas, pra mim nada vai piorar, sou um fudido mesmo e odeio este trabalho. Também odiava o trabalho anterior e nada me fará amar o próximo. Bem que podia ser numa banca de revistas ou então garçon num bar muito louco legalize it. Ou então cobaia de laboratório. Alguma coisa melhor deve existir no outro lado destas paredes. A merda cai maciota na água, quase nem fede. Meus peidos não fedem, mas fazem um barulho da porra. Tinha uma época que eles fediam e era muito massa peidar em ônibus lotado ou em filas de banco ou em qualquer lugar onde as pessoas estão por que são obrigadas a estarem, ou por acharem que são obrigadas, seria melhor dizer. O chefe falou que sua filha tava fazendo pré-vestibular pra poder passar em medicina na ferderal, pois não é qualquer um que pode pagar uma faculdade particular, ainda mais medicina, mensalidade alta, livros caríssimos. Ela é muito inteligente, mas um cursinho é necessário por causa da concorrência. Outro dia ela veio aqui com umas amigas, cada qual mais gostosa que a outra e cada qual mais inacessível pra mim que a outra. Agora o paraíso sabe de minha miséria. Isso eu pixei ontem numa igreja lá perto de casa quando mijei e caguei no altar. Tá bom, é mentira, foi na entrada da igreja que fiz isso, mas tanto faz... o padre ficou puto mesmo assim. Depois de limpar o rabo nada me impede de continuar mocado no banheiro matando o tempo. Fazer listinhas com os mais genteboa e os mais paunocu da firma também é massa: - A Suzy/telefonista além de bonitinha é genteboa - A Rose/secretária além de bonitinhamasgordinha é uma paunocudumapuxasaco. - O Paulo César PC é paunocu até nas iniciais além de mauricinho (imperdoável) - O Pedro apesar de nerd é genteboa - O Marmita é genteboa mas é um punk que nunca ouviu Stooges - O Diogo, apesar de ser o unico cara da firma que não tem apelido é genteboa - O Sazon é viado (é viado! É viado! É viado) Eu certamente sou um pau no cu, pois estou aqui enquanto o Marcos se fode pra fazer o meu trampo. Quando o chefe chegou não demorou muito pra me chamar no escritório. Isso é mau. Desleixo, desinteresse, desmotivação e mau exemplo: uma série de xingamentos/elogios com objetivo de arrasar com meu dia de trabalho. Missão fracassada. Saí do escritório revigorado com a promessa de que se não me corrigir serei premiado com uma semana de dispensa não remunerada. Isso é bom. Deixei de acreditar em empregos antes de conseguir o meu. Vários amigos levaram pé na bunda nas piores horas e um troço assim não pode ser meu objetivo de vida. Conseguir grana pra zoar é um mau necessário, mas daí sacrificar a vida por isso? Necas de pitibiricas. O meu castigo? Organizar o almoxarifado e ficar longe dos micros. Pode crer, você não pode por esperar. A coisa até que tava funcionando pro lado do chefe até que o Marmita/Oficce Boy chegou dizendo que não daria tempo de ir em três bancos a tempo. Deixa que eu te salvo, mano. Peguei as contas telefonicas, os cheques e os dinheiros e fui fazer minha tarefa clandestina no HSBC. Fila de banco é um troço demente mas genial. Quase ninguém gostaria de estar ali. É um dos lugares em que as pessoas mais olham para o relógio e mais demonstram gestos de impaciência. Além do quê banco é um lugar do mal, o certo é que tivesse um padre exorcizando uma vez por semana. Boa idéia, peguei o troco e fui num brechó que ficava maravilhosamente perto e comprei um vestido preto que com um pouco de imaginação até que lembrava uma roupa de padre, não sei o nome daqueles vestidões que os padre usam. Depois fui na lanchonete ao lado do banco, tomei uma coca-cola e roubei a garrafa vazia. Genial, eu me amo, enchi a garrafa com água e entrei no banco devolta. Fui jogando umas gotinhas de água no chão, nos clientes e funcionários murmurando trechos de um painosso improvisado. A diversão durou extatos 45 segundos (45 segundos de perfeição) até que o segurança me pôs pra fora me esculhambando. Muito massa, voltei pra cativeiro/trabalho rindo sozinho no ônibus. Tó os comprovantes de pagamento Marmita, salvei seu rabo só que tô de devendo vinte e sete reais. - O quê, cara? Porra, você é uma paunocú, véio! - Tô ligado. O chefe tinha saído, o que provavelmente significaria que só receberia minha licença prêmio no outro dia. Isso se não existisse celulares. Na hora a Shary ligou pra ele contando da minha fuga e do prejuízo de 27 pilas. Ligação pra mim, é ele. É Deus. É o Diabo, é o semi deus que quer minha alma. - Preciso dizer alguma coisa? - Claro! - Posso saber o quê? - O telefone da sua filha. Porque será que os chefes relutam tanto em despedir as pessoas no ato. Porque será que eles gostam de dar uma segunda chance? Rabo preso, baby, rabo preso. Pois que prenda meu rabo, meu rabo não vale nada. Só que esperar ele chegar pra receber a intimação oficial não tá com nada. Tenho coisas urgentes pra fazer nesse meu dia maravilhoso.

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