Por Luca Oliveira.
Luzia fechou os olhos e suspirou profundamente, expressando apenas para si mesma, o asco e a tristeza que sentia naquela vida miserável em que estava inserida, sem a menor possibilidade de escapar, de livrar-se, de dizer "chega" àquela situação desesperadora. Havia um grito preso na garganta, um anseio, uma súplica silenciosa e nada havia que a pudesse tirar daquele sofrimento indizível. Já não se lembrava de um tempo em que tivesse vivido sem aquele terrível sentimento de prisioneira, aquela sensação de não poder determinar sequer qual será a próxima palavra a proferir, tendo sempre um jugo pesado sobre os ombros, um dominador cruel e insano, impiedoso e insaciável de desgraças sobre sua vida já em frangalhos.
Luzia fechou os olhos e suspirou profundamente, expressando apenas para si mesma, o asco e a tristeza que sentia naquela vida miserável em que estava inserida, sem a menor possibilidade de escapar, de livrar-se, de dizer "chega" àquela situação desesperadora. Havia um grito preso na garganta, um anseio, uma súplica silenciosa e nada havia que a pudesse tirar daquele sofrimento indizível. Já não se lembrava de um tempo em que tivesse vivido sem aquele terrível sentimento de prisioneira, aquela sensação de não poder determinar sequer qual será a próxima palavra a proferir, tendo sempre um jugo pesado sobre os ombros, um dominador cruel e insano, impiedoso e insaciável de desgraças sobre sua vida já em frangalhos.
Sendo ainda muito criança fora seqüestrada por um criminoso miserável, traficante de pessoas e drogas, que fizera de sua vida, um poço de sofrimento e escuridão tão profundo, que não sobrou sequer uma fagulha de esperança de ser um dia devolvida a uma existência menos destroçada. Tendo sido obrigada a se prostituir até com vários homens no mesmo dia, ofício vil e ingrato, cujo produto pertencia integralmente ao mesmo ser infame que a subjugara de maneira tão desprezível, acabou por se entregar, se entupir diariamente de drogas a fim de poder suportar a carga que sobre seus ombros se agigantava, a ponto de não ser capaz de erguer-se sem gemer de dor e ansiedade. Tendo sido reduzida a um molambo humano, perambulava pelas ruas ao léu, desprovida de rumo, objetivo ou esperança. Contava então vinte e cinco anos, e nem uma vez se sentira amada, ou pelo menos percebida, notada como pessoa, e não apenas para satisfazer desejos de homens inescrupulosos; já não era capaz de cuidar-se, banhar-se regularmente, andava maltrapilha e desvalida, malcheirosa e triste, deprimida a ponto do desespero total. Assim passava os dias, sem acreditar que algum deles pudesse trazer-lhe algum alento, ou um pouquinho sequer de paz, àquele coração ressequido e amargurado. Simplesmente existia, porque VIDA, nunca soube , o que era. Até o dia em que do nada, sem que nada fizesse pra isso, sem nada ver ou ouvir, que pudesse justificar tal atitude, aquele homem, bem vestido, com roupas de um caimento perfeito, cheirando a perfume caríssimo, com olhar penetrante, dentes alvos que se abriam num sorriso acolhedor, homem de porte atlético, e voz profunda, decidiu sair do seu carro de luxo, que combinava perfeitamente, com sua figura esplendida, e aproximou-se daquele trapo humano em que se transformara Luzia, e num lance de arrebatamento, a abraçou sem se importar com as sujidades, que se lhe impregnaria, e falou-lhe ao coração dizendo: Tenho por ti um amor tão profundo que serei capaz de qualquer coisa afim de poder trazer-te a uma existência de felicidade plena, de vida abundante e satisfatória, quero dar-te toda felicidade que tenho reservada para quem amo. E eu te amo! Luzia não era capaz de entender e nem mesmo de aceitar aquele aconchego tão puro, tão desprendido, tão limpo, tão bom, que lhe parecia antes mais um prenúncio de desgraça, algo pra fazê-la acreditar que era possível abandonar aquela sub vida de desgraças, para depois fazê-la afundar-se ainda mais em suas tristezas. Olhou para aquele homem, que olhava pra ela de maneira tão carinhosa, e reunindo todo o ódio que seu coração havia acumulado por todos aqueles anos e cuspiu-lhe no rosto, ao mesmo tempo em que se afastava praguejando. Mas isso não chegou a ser nem ao menos um vislumbre do que aquele homem já havia sofrido para que pudesse trazer hoje à vida miserável de Luzia, um pouco do seu amor imenso.
Havendo muitos anos antes se encontrado com o crápula que seqüestrava e subjugava muitas pobres almas como a de Luzia, naquele território sem lei, num miserável país, onde os governantes apenas governavam para si mesmos deixando à vontade homens cruéis inescrupulosos que agiam como se fossem todo-poderosos, teve com ele uma luta tão brutal e cruenta, onde seu sangue fora derramado, e houve durante três dias a sensação em todo o universo, que Christian, havia sido derrotado irrevogavelmente, que nunca mais haveria esperança para os miseráveis que eram obrigados devido à impossibilidade de sair daquele lugar, a viver exclusivamente para o deleite de tão miserável soberano. Porém depois de três
dias em que esteve dado como morto, e na verdade morrera, não havia como negar, um poder que jamais poderia ser explicado pela mente mais brilhante levantou Christian daquela cova em que fora jogado e o trouxe novamente à vida, bem como ele reconquistou todo poder e riquezas que tinha antes de tal terrível confronto. Esse acontecimento, poderoso, causou tamanho impacto sobre a vida de Lúcio, seu opositor, que já cantava vitória sobre Christian, que desde então não foi mais capaz de encontrar-se com ele, de modo que continuava a oprimir as pessoas, porém reconheceu definitivamente que jamais poderia vencer aquele homem, portanto andava sempre escondido nas sombras, espreitando, verificando se poderia agir ou não naquele momento, e lugar, porque se Christian estivesse por perto, jamais se atreveria a sequer aparecer em público. Mas...Como poderia Luzia saber desse fato, se ninguém viera antes para lhe dizer quem era aquele homem? Como poderia ela saber que já fora derrotado definitivamente, por um preço tão caro o seu opressor? O que lhe faltava - e isso fazia a diferença de toda a sua vida - era a informação de que o preço havia sido pago, e que ela já não precisava mais viver em sujeição, aos caprichos do miserável, que a oprimia. Mesmo tendo sido derrotado pelo poder sobrenatural que trouxera novamente à vida o vencedor, Lúcio jamais permitiria, enquanto estivesse ao seu alcance, que qualquer pessoa que se encontrava sob seu domínio assim como Luzia, recebesse a informação que a libertaria plenamente. Assim sendo, ele somente se ocupava de duas coisas: manter subjugados aqueles que já conquistara, atravéz da desinformação, e subjugar outros sempre que possível também pela ignorância. Christian, não se abatera pela reação da escrava Luzia, continuou a procurá-la, pelos becos escuros, e fétidos da cidade perdida, convocando para auxiliá-lo, todos aqueles que já haviam sido alcançados por seu amor, de modo que não houve para ela alternativa senão ouvir o que tinham a dizer aquelas outras mulheres que tinham sido subjugadas da mesma maneira que ela, e que, no entanto podiam agora livremente, andar por onde bem entendessem, vivendo uma vida livre da opressão, do tirano, e mesmo encontrando-o ocasionalmente não tinham nada mais a temer. Depois de um tempo ouvindo as histórias que se chegavam ao ouvido, Luzia finalmente decidiu cair aos pés, daquele homem que a procurara, naquele mesmo lugar onde ela o havia desrespeitado de maneira tão vil, como era de se esperar de alguém que vivia nas mesmas condições que ela. Foi então que o maior milagre aconteceu: de repente Luzia via a própria vida sendo passada diante de si, e compreendeu que se tivesse enxergado as coisas na dimensão espiritual, teria percebido há muito, que o seu maior temor, e o que causou a subserviência de tantos anos, nada mais era que o fato ter sido enganada, sem conseguir enxergar o que de fato já havia sido feito por sua vida. Ah, como era bom de um momento para o outro, ter os olhos abertos e ter retirado de sobre seus ombros um peso tão terrível, que a fazia vergar-se. Poder num instante ver-se livre, e apta para desfrutar de todas riquezas de seu benfeitor, riquezas incalculáveis que doravante tornaram-se suas, sem que nada tivesse feito para merecê-las. Neste momento Luzia entendeu, pela primeira vez em seus vinte e cinco anos de existência o significado verdadeiro da palavra amor. Mas, sabe como é... o povo gosta de contar histórias...
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