O VELHO TRISTE
de Reinaldo Simões.
Todos os dias passando por um bar da rua, via a figura triste de um velho que parecia olhar para o infinito. Seu rosto enrugado transmitia bem estar, mas ao mesmo tempo uma profunda tristeza. Reparei que nunca conversava e sentava-se sozinho à mesa. Bebia cerveja e bebericava um aguardente qualquer. Seu olhar quase imóvel era raramente interrompido em sua placidez por algum suspiro profundo. Aquele rosto calmo e perdido, sua postura quase congelada, atraiu minha curiosidade. Mas nos tempos de hoje, a vida, mesmo nos bares, exige uma certa rapidez, e como não sou de importunar quem quer que seja, deixei de lado.
Entretanto em um dia de muito cansaço e parando no mesmo bar para beber um refrigerante, notei que todas mesas e cadeiras estavam ocupadas, a não ser uma que sobrava na mesa do velho triste. Em um dia comum me debruçaria sobre o balcão a bater papo com o dono do bar ou algum atendente, mas naquela ocasião não deu. É, cansaço de trabalho extremo e porre contínuo desmoronam qualquer um! Foram duas semanas de viagem dirigindo uma peça teatral pelo interior. Além do trabalho ser duro, bebe-se à noite com os atores para comemorar o sucesso e de dia com os técnicos durante os interválos. Então o certo é que pedi para sentar-me à cadeira que sobrava, e acrescentei -"Se o senhor estiver esperando alguém, fique à vontade para recusar."- mas prontamente estendeu a mão apresentando o lugar para que eu me sentasse.
O tempo decorreu com uma contínua brisa morna, muito agradável naquele inverno, e ficamos em silêncio durante muito tempo. Ele mesmo quebrou o silêncio oferecendo-me um copo de cerveja e pedindo um cigarro. Era o que eu precisava para praticar meu plano de desvendá-lo.
Descobri no velho uma conversa animada, de um conhecimento atual muito amplo. Descobri que aquele velho, ex-servente de obras, ex- pescador, ex-rico (ganhou certa vez na Loteria), possuia uma história de vida interessantíssima! Mulheres, viagens, aventuras e família.
Com mais tempo de bate papo me disse que escreveu um livro de poesias sem nunca publicar, que a única falta que sentia na vida era de sua família que num momento de loucura abandonou (e agora tinha muitra vergonha de voltar). Quando ele começou a rir, até gargalhar às vezes, o Leônidas me chamou do balcão e disse que desde o primeiro dia que o velho pousou por ali, há anos, nunca o viu naquele estado.
Na hora da volta para casa, jurando internamente que aqueles seriam os últimos copos de cerveja durante meses, aprestei minha mão para um forte cumprimento, mas contra qualquer expectativa levantou-se e me deu um abraço, olhou para mim com um sorriso de plena satisfação, deu adeus e se foi.
Os outros dias transcorreram com a mesma correria de trabalho, e passando rapidamente pelo bar não o vi mais. É claro que após um mês e pouquinho fui ao balcão do Leõnidas e perguntei pelo velho. O Leônidas falou que depois daquele dia nunca mais apareceu -"Vai ver que morreu, ja era muito velho!"- disse.
Cá pra mim, eu prefiro que tenha procurado sua família e que hoje esteja por lá, comemorando com aquele último sorriso que vi, e algumas cervejas em volta.
Entretanto em um dia de muito cansaço e parando no mesmo bar para beber um refrigerante, notei que todas mesas e cadeiras estavam ocupadas, a não ser uma que sobrava na mesa do velho triste. Em um dia comum me debruçaria sobre o balcão a bater papo com o dono do bar ou algum atendente, mas naquela ocasião não deu. É, cansaço de trabalho extremo e porre contínuo desmoronam qualquer um! Foram duas semanas de viagem dirigindo uma peça teatral pelo interior. Além do trabalho ser duro, bebe-se à noite com os atores para comemorar o sucesso e de dia com os técnicos durante os interválos. Então o certo é que pedi para sentar-me à cadeira que sobrava, e acrescentei -"Se o senhor estiver esperando alguém, fique à vontade para recusar."- mas prontamente estendeu a mão apresentando o lugar para que eu me sentasse.
O tempo decorreu com uma contínua brisa morna, muito agradável naquele inverno, e ficamos em silêncio durante muito tempo. Ele mesmo quebrou o silêncio oferecendo-me um copo de cerveja e pedindo um cigarro. Era o que eu precisava para praticar meu plano de desvendá-lo.
Descobri no velho uma conversa animada, de um conhecimento atual muito amplo. Descobri que aquele velho, ex-servente de obras, ex- pescador, ex-rico (ganhou certa vez na Loteria), possuia uma história de vida interessantíssima! Mulheres, viagens, aventuras e família.
Com mais tempo de bate papo me disse que escreveu um livro de poesias sem nunca publicar, que a única falta que sentia na vida era de sua família que num momento de loucura abandonou (e agora tinha muitra vergonha de voltar). Quando ele começou a rir, até gargalhar às vezes, o Leônidas me chamou do balcão e disse que desde o primeiro dia que o velho pousou por ali, há anos, nunca o viu naquele estado.
Na hora da volta para casa, jurando internamente que aqueles seriam os últimos copos de cerveja durante meses, aprestei minha mão para um forte cumprimento, mas contra qualquer expectativa levantou-se e me deu um abraço, olhou para mim com um sorriso de plena satisfação, deu adeus e se foi.
Os outros dias transcorreram com a mesma correria de trabalho, e passando rapidamente pelo bar não o vi mais. É claro que após um mês e pouquinho fui ao balcão do Leõnidas e perguntei pelo velho. O Leônidas falou que depois daquele dia nunca mais apareceu -"Vai ver que morreu, ja era muito velho!"- disse.
Cá pra mim, eu prefiro que tenha procurado sua família e que hoje esteja por lá, comemorando com aquele último sorriso que vi, e algumas cervejas em volta.
Fim.
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